sábado, 24 de maio de 2008

Isabella

Gente adulta pode ser má, muito má. Você, Isabella, soube disso de uma forma muito dura.
Esganaram seu pescocinho. Arremessaram seu corpo frágil do sexto andar do seu apartamento. Você deve ter sentido dores terríveis. Sofrido os piores minutos de pavor e agonia. Até que seus olhinhos, mesmo estatelados, deixaram de ver este mundo.


Isabella, pedimos o seu perdão porque nós, adultos, criamos leis que beneficiam criminosos.
A lei brasileira presume a inocência de um assassino, mesmo diante de evidencias razoáveis de culpa. Porém, essa mesma lei não vê a inocência de uma criança.
Adultos brasileiros, Isabelinha, têm o costume de ficar

parados, assistindo às crianças morrerem. Com isso, no Brasil, dezesseis vítimas infantis são assassinadas todos os dias. Criançinhas da sua idade, são torturadas, como o menininho João Hélio lá do Rio de Janeiro e os corpinhos são trucidados sem piedade. E o povo brasileiro não faz nada. Os assassinatos de crianças e adolescentes aumentaram 306%, no Brasil, entre 1980 e 2002.
Eu sei que você não vai entender esses números.
Você – como toda criança – queria viver, brincar, sorrir, ser feliz.
Esse seu direito, o assassino tirou. E agora esse mesmo assassino pode se beneficiar da lei molenga e da preguiça dos brasileiros.

Perdoe, Isabella, este país, que ainda é uma criança, no sentido irresponsável da palavra. Ele também não cresceu.
Em assuntos sérios, como os homicídios de crianças, o Brasil parece brincar com a justiça necessária ao caso, diante de leis que soam como brincadeira; infelizmente, de péssimo gosto. Este país, Isabella, não gosta de punir criminosos.
Se você perdoar a complacência da lei dos adultos com os criminosos, não pense, ainda, que todo adulto é malvado ou dá de costas para indefesas crianças.
Estamos em meio a uma grande batalha, Isabella, entre adultos.
Para alterar a visão que o pessoal tem da lei. Responsabilizar criminosos.
Cobrar respeito com os mortos, com as vítimas.
Isso tem custado um bocado, tem sido muito difícil.
E quando morre uma criança brutalmente, nós ficamos meio sem rumo, porque percebemos
que o criminoso sente o cheiro da impunidade se aproximar.






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